segunda-feira, 9 de junho de 2008

Discurso da cerimônia de posse da Cadeira 36 da Academia Paraense de Jornalismo

Certa vez, alguém disse que o caminho a nos conduzir a Deus é feito apenas de gratidão. O confrade Francisco Sidou, em carta que me endereçou, no dia 10 de junho passado, muito me sensibilizou. Atribuiu, a meu trabalho, “méritos ao longo de toda uma vida dedicada ao jornalismo sério e isento”, sugerindo a minha candidatura a uma das duas cadeiras vagas de membro perpétuo deste Silogeu. Na pessoa de Francisco Sidou, quero agradecer aos colegas que me proporcionaram, com o seu voto, a oportunidade de viver o significativo momento desta cerimônia de posse da Cadeira de número 36, tendo por patrono Edgar de Campos Proença e primeiro ocupante Edyr de Paiva Proença.
Comecei a me identificar com a fascinante atividade de imprensa no final da década de 30 quando, aluno do Colégio Salesiano Nossa Senhora do Carmo, fundei o Grêmio Literário Amazônico e os jornais “Amazônia”, com a finalidade de incentivar as vocações literárias, e “O Dardo” destinado a criticas. De início, eram manuscritos, depois datilografados, com apresentação imitando os planejamentos gráficos dos jornais impressos. Mesmo nesse tempo, cheguei a colaborar na revista “A Semana”.
Ainda dessa época, gratificante é para mim a lembrança da oportunidade de haver participado, com Haroldo Maranhão e Ossian Brito, da elaboração do periódico “O Colegial” que divulgava os eventos estudantis e os trabalhos que revelavam vocações para a arte literária e o jornalismo.
No principio dos anos 40 me profissionalizei como revisor no antigo “O Estado do Pará”, tendo como redator-chefe Santana Marques. Na redação do jornal da família Chermont, conheci figuras representativas do jornalismo e da literatura paraense: De Campos Ribeiro, Sandoval Lage, Ângelus Nascimento, Machado Coelho, Dulcidio Barata, Ritacínio e Flaviano Pereira; na “Folha do Norte” e “Folha Vespertina”, o poeta Tomaz Nunes, José Santos, Ossian Brito, Armando Mendes, sob a direção do notável professor Paulo Maranhão. Retornei ao “O Estado” na condição de redator. Em 1949, ingressei no quadro redacional de “A Província do Pará”, dos “Diários Associados”, nos tempos de Alfredo Sales, Pedro Santos, Nilo Franco, Mário Couto, Cláudio Sá Leal, Eládio Malato, Jaime Barcessat, Mário Rocha, Linomar Bahia, Almeida Castro, sob a direção do extraordinário estudioso dos problemas amazônicos, o jornalista Frederico Barata. Peço desculpas pela omissão involuntária de nomes de companheiros de uma época mais discreta em suas lembranças, devido a distância do tempo.
O exercício da advocacia e as funções públicas não me ausentaram da formação profissional, influenciadas por três mestres do jornalismo no Pará: Paulo Maranhão, Santana Marques e Frederico Barata. Atualmente, exerço atividades no “Diário do Pará”, sob a superintendência do jornalista combativo na hora precisa; lidera uma administração compatível com as transformações pelas quais passa o jornal que fundou, numa época em que se lutava pela redemocratização do País. Quero mencionar o fraterno amigo Laércio Barbalho, a quem expresso, de público, a minha gratidão.
Enaltecer a personalidade de Edgar Proença é recordar o homem simples, cordial, o primeiro colunista social da imprensa brasileira – como bem há poucos dias me lembrou a confrade José Valente – o poeta, teatrólogo, o “ma-gué-nhé-feco” geralmente bem humorado; o Miracy, pseudônimo com que assinava os “Gravetos”, Edgar Proença tinha afeição acentuada pela sua Rádio Clube do Pará – “a voz que fala e canta para a Planície” e o Teatro da Paz que dirigiu até se aposentar.
Cabe-me, a essa altura, homenagear a memória de Edyr Proença, destacando trechos de seu discurso de posse na presidência dessa Academia – documento que expressa a ternura de um filho não conformada com a eterna ausência física do pai ilustre. Sobre tal sentimento, Edyr se considerava compromissado em se expressar: “Dele devo falar apaixonadamente em especial porque é o patrono da Cadeira 36 deste Silogeu, a cadeira que generosamente me foi destinada”.
Edyr recorda que nos seus sete e oito anos de idade, surpreendeu o pai, ao entregar-lhe à mesa do café, “duas noticias rabiscadas com uma letra ainda inestética, de principiante, pedindo-lhe pretensiosamente que a publicasse. Dele ganhei umas linhas onde se confundem sua sabedoria, experiência, vaidade e poder de síntese, numa autêntica aula que só mais tarde foi possível aquilatar”. As notas foram incluídas numa crônica “O Jornalista” que Edgar Proença assinou na revista “A Semana”, da qual era editor. Na crônica, ainda uns conselhos: “A sorte do Edyr”, se vingar jornalista, está ser sempre reto e nunca recuar (...). “Mas eu o escrevi para que, daqui a anos, em luta com a vida, em face das contradições e vaidades, possa ele, então, oportunamente, servir-se desses meus conselhos”.
Sobre essa lembrança paterna que lhe deve ter sido inesquecível por toda a sua vida, Edyr se expressou: “Ah, se eu ainda o tivesse até hoje! Mas foi debaixo desses conselhos que logo estava trocando um título de bacharel em Direito por uma máquina de escrever e um microfone, oferecendo o diploma àquela que tanto me estimulou carinhosamente, minha mãe”.
Ao terminar, cabe-me agradecer as generosas referências de Ubiratan Rosário, nesta cerimônia, reunindo autoridades e figuras representativas da imprensa e da nossa sociedade, transparecendo a importância da Academia Paraense de Jornalismo, realização do ideal de Donato Cardoso e dos confrades que se relacionam entre os fundadores. E faz lembrar um pensamento de Saint Exupéry: “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”.

Pádua Costa

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